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Jovens Violentos


Falta de atenção pode levar jovens e adolescentes a praticar atos violentos, diz psicóloga

Para tentar entender a atitude do jovem que invadiu uma escola no Rio de Janeiro e matou 12 crianças e 11 hospitalizadas na quinta-feira passada, dia 7, o Capital News conversou com a psicóloga, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e conselheira do Conselho Regional de Psicologia, Sandra Amorim, que trabalha na área dos direitos humanos, crianças e adolescente para mostrar como a família e os amigos podem identificar um jovem que está passando por bulling ou algum transtorno mental.
Capital News: Na opinião da senhora, o que leva um jovem a cometer um ato como o que aconteceu na escola do Rio de Janeiro?
Sandra Amorim: Eu acho importante salientar que esse caso é uma situação de exceção, pois foi uma tragédia que envolveu várias famílias, foi um fato isolado e de caráter de exceção. Várias ciências podem falar sobre as causas e o motivo ou a fundamentação que levou o jovem a fazer isso. Na visão da psicologia temos que entender a história do rapaz para tentarmos buscar uma explicação. Uma hipótese poderia ser que ele sofria de um transtorno mental psicótico, que caracteriza em perder o contato com a realidade. O rapaz, segundo depoimento de amigos e familiares, ficou um tempo isolado vivia calado, o transtorno poderia ser uma das causas. Nos seres humanos sempre buscamos uma causa para tentar explicar o fato. Explicar o que leva um rapaz a cometer um ato como esse. Temos que entender como era a sociedade que ele vivia, as razões psicológicas. A doença não explica o fato.
Capital News: Como os pais, familiares e amigos podem identificar se um jovem tem tendências a algum transtorno mental?
Sandra Amorim: É complicado fazer um estereótipo para identificar se um jovem tem algum transtorno. No caso do rapaz do Rio de Janeiro ele não tinha nenhum estereótipo de pessoa má, não tinha passagem pela polícia, tão pouco comportamento agressivo. Nem sempre a criança levada, que não obedece à professora, que não para quieto, tem algum transtorno. Pode ser que ele não tenha limites, ou seja, mal educada. E nem toda a criança quieta, que é comportada, é sinônimo de pessoa boa. Só é possível identificar se o jovem sofre algum transtorno verificando o comportamento. No caso do Rio, o menino estava muito solitário. Isso seria um sinal. Cada pessoa funciona de um jeito. A sociedade acaba atacando os comportamentos intempestivos dos jovens e se esquece de ver as crianças retraídas. Uma criança calada pode estar sofrendo muito e passa despercebida. O excesso de silêncio e falta de contato são sinais de que a criança ou o adolescente estão mostrando que existe algo de errado. Nem sempre um mau comportamento pode ser considerado negativo. Isso tem que ser avaliado.
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Foto: Deurico/Capital News
Capitalnews: A educação que os pais dão é o que determina o comportamento de um jovem? A formação do caráter e base familiar têm influência?
Sandra Amorim: Eu acredito que a palavra determina é um pouco pesada para abordar essa questão. Todas as relações sociais são importantes para a formação do caráter do sujeito. Claro que começa num grupo social menor que é a família e vai para outros grupos. Basicamente, a família é responsável pela formação de caráter. Um dos motivos das políticas públicas do Estado ser voltadas para a família é porque o entendimento da Constituição é que o sujeito não é responsável pela sua formação. Um dos primeiros fatos que foi vinculado no caso do Rio foi de que o rapaz era filho adotivo. Ser filho adotivo não quer dizer que seja um filho problemático. Isso só existe no imaginário popular. Se a pessoa só tem uma mãe, se é criado por três mulheres, dois homens, isso não interfere. Se a criança ou adolescente tiver um grupo constituído que possa dar condições para que seja desenvolvida a sociabilização a criança terá uma formação de caráter plena. Voltando a história do Rio, esse menino passou pela rede de saúde, optou por não fazer o tratamento. Outros souberam dessa condição do jovem e não o conduziram para algum tratamento. Ele teve acesso à arma. Ele teve vários facilitadores sociais para cometer o crime. Não teve ninguém que pudesse conter e entender o que ele estava sofrendo de algum transtorno. A nossa tendência e focar somente na atitude do sujeito e não do grupo que ele vive. A criança se constitui mais da relação de fazer do que de falar, por exemplo, que não posso falar para minha filha que não pode mentir se quando toca o telefone eu falo para ela dizer que não estou. Nós nos contradizemos a todo instante.
Capital News: Esse fato que ocorreu no Rio de Janeiro pode ter sido bulling?
Sandra Amorim: O bulling na realidade é uma expressão usada recentemente, mas sempre existiu. Nas escolas e lugares sociais sempre existem implicâncias de uma criança com outra. A criança taxada diferente pela cor. O bulling altera a autoestima e coloca a criança em estado de vulnerabilidade. Quanto mais velhas as pessoas, mais elas precisam ser inseridas na coletividade. No caso Rio, o rapaz sempre vivia isolado.
Capital News: Tem alguma coisa para fazer com que a pessoa que é vítima de bulling não seja o agressor no futuro?
Sandra Amorim: Se nós conseguirmos voltar nossas políticas públicas para prevenção e se puder ser trabalhada pelas causas e consequências, conseguiríamos fazer com que a vítima não se torne agressor. Quando uma criança é vítima de bulling, ela se sente desvalorizada, destituída de qualquer valor e prefere se identificar com o agressor, aí ela repete as atitudes do agressor. Quando a criança sofre bulling um sentimento de vingança toma conta dela, aí ela quer ocupar o lugar do agressor. O sentimento de vingança é normal, é da condição humana.
Capital News: Na opinião da senhora, existem pessoas especializadas para descobrir que a criança está sofrendo bulling ou possui algum transtorno nas escolas de Campo Grande?
Sandra Amorim: Sim, na maioria das escolas existem pessoas qualificadas, mas eu penso que o comportamento alterado pode ser observado tanto na escola como no meio familiar. Na escola a criança passa maior parte do tempo, no entanto, a família consegue identificar até melhor o que está acontecendo com os jovens. Uma parcela ínfima da população sofre de transtornos. Nós queremos a partir de um comportamento encontrar doenças mentais nas crianças. Como crianças que não tem limite serem hiperativas. A escola não é um espaço de atendimento e sim de prevenção. Uma estratégia interessante é colocar as crianças em uma reflexão sobre o bulling. As pessoas acham que fazer isso é romantizar uma situação já passada. Quando uma criança relata isso aos pais ou ela é ridicularizada sendo chamada de fraca ou e estimulada pela família dar o troco.
Capital News: O que leva jovens de classe média e média alta, que não precisam financeiramente de nada, a cometer atos violentos e inconsequentes?
Sandra Amorim: Temos de levar em conta algumas características típicas dos adolescentes que é a experimentação da identidade. Se sentir forte é uma dessas características que pode ser expressada de forma violenta. O que temos de pensar é que isso é só de responsabilidade do adolescente ou da família. Se um adolescente de classe média tem suas necessidades básicas supridas, mas comete furtos pela perceptiva da psicologia ele não pode ser responsabilizado. Temos que saber como ele se constitui na família. Nós vivemos em uma sociedade extremamente consumista que quem tem mais vale mais e além do mais vivemos num mundo de contradição. Nós somos extremamente hostis com o adolescente infrator e dóceis com políticos ladrões, que comentem crime do colarinho branco. Eu trabalho com adolescentes, então, muitos me perguntam: Por que eu estou aqui numa unidade de internação e tem um monte de políticos soltos? Aí eu não tenho o que responder. O que acontece é que a família dá dinheiro em vez de atenção. O problema é dar limite, pois dizer sim é mais fácil

Por Eduardo Penedo e Jackeline Oliveira - Capital News (www.capitalnews.com.br)